Vênus, a estrela d'alva por Regina Auxiliadora Atulim
Conhecido desde a Antiguidade, o planeta Vênus atrai o olhar do observador mais desatento por ser o astro mais brilhante do céu noturno, descontando-se a presença da Lua. Não possui satélites naturais e por ser um planeta interior, só é visível da superfície da Terra ao amanhecer, acima do horizonte leste ou ao anoitecer, para os lados do oeste. Por esse motivo, é conhecido como a estrela d'alva, a estrela matutina, a estrela vespertina, a estrela do pastor, nomes, em parte, impróprios, pois Vênus não é uma estrela, mas um simples planeta do Sistema Solar. Em 1610, o astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), por meio de sua pequena luneta, descobriu que o planeta exibe fases como a Lua: quando Vênus encontra-se entre a Terra e o Sol exibe a fase de nova. Nessa situação, embora esteja o mais próximo possível de nós, não pode ser observado, pois o hemisfério voltado para a Terra não é o iluminado pelo Sol. Quando passa pela fase de cheia também não pode ser visto por encontrar-se "atrás" do Sol para um observador terrestre. Assim, pode ser observado apenas quando passa pela fase de crescente ou de minguante. A uma distância média de 108 milhões de km, Vênus é o segundo planeta por ordem de distância ao Sol e emprega cerca de 225 dias para completar uma translação.
Atmosfera
O brilho intenso de Vênus deve-se à reflexão da luz solar pelas nuvens de sua densa atmosfera. Até o início do século XX, os astrônomos acreditavam que sua composição química era semelhante à da Terra. Entretanto, estudos posteriores apontaram que a atmosfera era composta predominantemente por dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2). Essa substância causa o efeito estufa, tornando a temperatura na superfície do planeta mais elevada do que normalmente seria na ausência desse composto. A atmosfera estende-se desde a superfície até uma altitude em torno de 400km e é dividida em duas partes principais: uma camada inferior, composta por 96% de dióxido de carbono, 3% de nitrogênio e 1% de gases nobres (Hélio, Neônio, Argônio e Xenônio), além de dióxido de enxofre, e traços de vapor d'água. Acima, a cerca de 50 km de altitude, encontra-se uma cobertura de nuvens disposta em três camadas distintas, composta principalmente por ácido sulfúrico. A pressão foi medida diretamente pela sonda soviética Venera 7 (1970) em 90 atmosferas, o que corresponde à pressão existente a 1.000 m de profundidade num oceano na Terra. A alta concentração de dióxido de carbono é responsável por um efeito estufa global, que mantém a temperatura na superfície em torno de 400°C praticamente no planeta inteiro.
Período de rotação
Desconhecendo a alta densidade da atmosfera do planeta, os astrônomos do passado julgavam que as formações escuras observadas nas imagens telescópicas eram estruturas do relevo venusiano. Entretanto, logo perceberam que se tratavam de fenômenos atmosféricos, pois mudavam rapidamente de aspecto com o passar do tempo. Assim, a determinação do período de rotação era um desafio para os astrônomos que, impedidos de observar um ponto qualquer da superfície, eram capazes de medir apenas o período de rotação da camada superior das nuvens. Com as informações enviadas pela sonda Mariner 2 (1962), foi possível verificar que o período de rotação é mais longo que o de translação e que o planeta gira em sentido contrário ao da rotação terrestre. Paralelamente, os radares terrestres permitiram que o período fosse precisamente medido em 243,02 dias terrestres, confirmando também o sentido retrógrado do movimento.
Estrutura interna
Vênus tem dimensões e densidade média muito semelhantes às terrestres, o que indica que sua estrutura interna também deve ser parecida com a da Terra. De acordo com o modelo e as informações obtidas pelas sondas, o planeta tem um núcleo sólido formado por ferro e níquel envolto por um manto contendo óxidos metálicos e silicatos e uma crosta rochosa sem qualquer vestígio de água.
Campo magnético
O campo magnético de Vênus é cerca de 100 mil vezes mais fraco que o terrestre. Entretanto, parece que nem sempre foi assim. Acredita-se que ele era da mesma ordem de grandeza do terrestre durante o primeiro bilhão de anos de sua existência. Entretanto, após esse período, o fluxo de calor do núcleo para o manto parece ter diminuído, impedindo a geração do campo. A não detecção de registros do campo magnético nas rochas da crosta pode dever-se às altas temperaturas na superfície.
Superfície
É composta quase que inteiramente por basaltos de origem vulcânica. O relevo é formado basicamente por uma imensa planície, poucas depressões e três grandes maciços montanhosos. Ao contrário da superfície terrestre, a crosta é formada por uma única e espessa placa basáltica. Cerca de 95% da superfície situa-se a menos de 1.000 m acima do nível de referência, considerado como o raio médio do planeta (6.051,4 km). As regiões com altitudes superiores a 1.000m concentram-se nos três maciços montanhosos: Terra de Ishtar, Terra de Aphrodite e Região Beta. Ishtar possui as dimensões do continente australiano e abriga os Montes Maxwell, o ponto mais alto do planeta, com cerca de 11.800 m de altitude. Na região equatorial encontra-se a Terra de Aphrodite, onde o relevo é bem mais acidentado que o de Ishtar. A altitude máxima dessa região é de 9.000 m, cerca de 5.000 m acima da média local. A porção oriental desemboca em um amplo vale com 2.250 km de comprimento por 280 km de largura, onde situa-se o ponto mais baixo da superfície - uma fenda com cerca de 2.900 m de profundidade. No hemisfério norte encontra-se a região Beta, cujas principais estruturas são os Montes Theia e Rhea, com altitudes da ordem de 4.500 m. Formados pelo empilhamento de lava, acredita-se que sejam vulcões. O Monte Theia, com cerca de 700 km de diâmetro, é maior que qualquer vulcão terrestre. O Monte Rhea parece ser atravessado por uma fenda, talvez indício do movimento da crosta venusiana. As primeiras análises químicas da superfície foram realizadas por sondas soviéticas. Há regiões cobertas por rochas magmáticas ricas em metais alcalinos; outras apresentam-se estratificadas, muito oceânicas terrestres. A grande alteração na concentração de dióxido de enxofre na atmosfera detectada pelas sondas sugere a presença de atividade vulcânica. As imagens da sonda Magalhães (1989) mostram grande evidência de derrames vulcânicos e atividade tectônica no passado, já que 80% do planeta são cobertos por material vulcânico. ALgumas estruturas em forma de ferradura possuem em seus interiores caldeiras com diâmetros de 25 km, contudo, não forma observados vulcões em erupção. As imagens também evidenciam que Vênus não possui crateras de impacto com menos de 3km de diâmetro. Isto se deve à alta densidade da atmosfera que desgasta e destrói completamente pequenos fragmentos que penetram na atmosfera antes de atingirem o solo. As crateras maiores possuem bases com inúmeras depressões que talvez tenham sido geradas por fragmentos dos grandes meteoritos que formaram as crateras.
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